Os machos lacrimosos

Eles se encontravam por causa de alegrias.

No bar de Matakuane, os homens anedotavam,

fabricando risadas.

Um único motivo:festejavam a vida.

As suas esposas não suportavam aquele disparatar.

Afinal,elas, as mulheres, não precisam de ritual

para festejar a vida.

Elas são a festa da vida.Ou a vida em festa?

Para elas aquela cumplicidade masculina

era coisa de tribo.Reminiscência atávica.

(...)Cada um que chegava ao bar ,

disparava, logo à entrada:

-Sabem da última?

(...)Até que sucedeu a noite em que Luizinho

Kapa-Kapa, o grande animador dos encontros,

trouxe a notícia tristonha.

(...)pela primeira vez ,

os copos ficaram cheios toda a noite.

(...)Amolecidos, os amigos foram-se rendendo a

um descaimento no peito,

o singelo peso da lama na alma.

(...)Não tardou que todos chorassem

babas e rebanhos.

E foi sucedendo uma e outra noite.

Os baristas foram deixando a piada e o riso.

E passaram a partilhar lamentos, soluços e lágrimas.

(...)Afinal, a pessoa não vem à luz logo em prantos?

O choro não é nossa primeira voz?

E é o que ,por outras palavras,sentencia Kapa-Kapa:

a solução do mundo é termos mais do nosso ser.

E a lágrima nos lembra:

nós, mais que tudo não somos água?