Por que estamos aqui?
Sei lá! Culpa dele, só dele.
Responde aí, Carlinho!
Ele não fala, ficou mudo.
Fala, Carlinho!
Conta a nossa história.
São dez anos.
Conta tudo, desde o começo.
O primeiro encontro, o vinho,
as flores, o beijo.
Não, o beijo não.
Disso ele não lembra mais.
Depois de um tempo
só ficam aqueles estalinhos de boa noite,
como dois compadres siberianos.
E as promessas, claro.
Conta pra ela, Carlinho!
Conta pra ela, Carlinho!
Como não prometeu nada?
Cadê o cara que abria a porta do carro,
que elogiava o vestido,
que recitava poesia no ouvido,
que me olhava com fome
e enfiava a língua na minha garganta?
Você inteiro foi uma promessa.
Ninguém avisou que tinha prazo de validade.
É por isso que estamos aqui, doutora.
É por isso que estamos aqui, doutora.
Eu te chamo de doutora ou pelo nome mesmo?
Então prefiro doutora.
A senhora pode me chamar de Olga.
Não gosto de formalidades.
Não é, Carlinho?
Fala, Carlinho!
Isso aqui é pra nós dois. Terapia de Casal.
Pra mim e pra você, entendeu?
Continua contando!
Pula pro apartamento.
Não é sexo, Carlinho!
Quer que eu fale de prazo de validade outra vez?
Fala do apartamento, quando fomos morar juntos.
Eu sei, você não me convidou.
Meus sapatos é que invadiram o teu closet,
os vestidos se apossaram dos cabides
e as blusas invadiram as gavetas.
Pra que você precisava de tantas camisas listradas?
E a coleção de calças de lã?
No Rio de Janeiro, Carlinho!?
Você não convidou, mas também não desconvidou.
Outra promessa.
Claro que era uma promessa.
Claro que era uma promessa.
Fiz comidinha, arrumei a cama, até lavei a louça.
Uma esposa vitoriana, que nem a tua mãe, a tua avó
e toda a italianada da tua família.
Como não era esposa?
Essa era a maior das promessas.
Você era perfeito, Carlinho.
Você era perfeito, Carlinho.
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