quarta-feira, 19 de maio de 2010

Confissão


Escrevo como quem está num transe.
As palavras não me pertencem.
Tem vida própria.
Bailam diante de mim,
por vezes até zombam.
Uma a uma caem rapidamente
como se a torneira
estivesse com defeito.
Cadenciadas formam frases.
Nem me consultam...
Aparecem nas horas mais impróprias.
Momentos em que não disponho de papel
ou quando não posso lhes dar a devida atenção.
Não se importam!
Jorram em qualquer lugar.
Depois leio.
Leio calmamente para ver se há sentido.
Se estão bem conjugadas.
Se falta-lhes significado maior.
Mas elas sempre me surpreendem.
Sussuram ao meu ouvido sem parar.
Só dependem de mim para transpô-las no papel
ou no computador,
no mais já estão prontas.
Sirvo-as sempre.
Fazer o que?
São caprichosas.
Acabo deixando-as assim com meus mimos.
Sou mãe delas.
Sei que não as gerei, só as pari.
Não sei onde estão os óvulos que as fecundaram,
nem adianta procurar.
Não acho.
Só sei que minha participação
é de suma importância para que venham ao mundo
de forma inteligível.
Dou a elas forma e contorno.
Apenas isso.
Onde será que moram quando não estão nas pontas
do meu lápis ou na ponta dos meus dedos?
Sei que elas não me pertencem,
Por isso divido-as...

Um comentário:

Marcos disse...

Dar oriegem as coisas é incrivel, mesmo que sejamos meros "meios" para as palavras se expressarem e mandar tantas coisas boas para todos...

bjs