segunda-feira, 10 de maio de 2010

Amor Juvenil


Nada como um amor juvenil.
(...)O amor juvenil é sincero, úmido, urgente.
(...)O amor juvenil não precisa de explicação, é autorreferencial,
um vício desde o início, como diria o Caetano.
Mas o melhor dos vícios, cuja dependência é tudo que queremos.
É verdade que Luana já não era tão juvenil assim:
tinha o cabelo pintado, um passado de guerrilha
e já espalhava creme da Victoria Secret’s por todo o corpo.
E ele... Bem, ele era ainda mais velho,
com uma barba cerrada que a machucava,
algumas rugas de expressão e boas histórias pra contar.
Mas não tinham dúvidas:
eram ambos adolescentes, passionais, loucos.
Eram ambos irresistíveis um para o outro.
Impossível não lembrar das vezes em que andavam
de mãos dadas pelas ruas de um certo balneário.
Em uma delas, durante um passeio pela orla,
ele a pediu em casamento.
O dia estava feio, nublado, avesso a qualquer tipo de romantismo.
(...)Não enxergava pieguice em nenhuma manifestação amorosa.
Para ser completo, o amor precisava ser ridículo,
precisava de extravagâncias e, acima de tudo,
precisava de testemunhas.
No meio da caminhada pelo calçadão,
ele a convidou para almoçar.
Um convite estranho para o horário: onze e meia da manhã.
Mas ela não recusou, nem mesmo quando recebeu
a pequena faixa de pano e o pedido para que vendasse os olhos.
- O que é isso, Solano?
- Confia em mim, meu amor.
Andaram por mais alguns metros
até uma pequena escada que levava à praia.
A areia penetrou nas sandálias,
deixando-a ainda mais intrigada.
Vamos almoçar à beira-mar?
Calma, estamos chegando.
(...)Vendada, Luana aproveitava os outros sentidos para se localizar.
Ouvia poucas vozes.
O cheiro de maresia ficava mais forte a cada passo,
embora se misturasse com um aroma incomum,
de difícil identificação.
Um gosto doce tomava conta do palato,
talvez influenciado pelo tal aroma desconhecido.
Quando sentiu a água bater nos tornozelos,
Solano pediu que parasse de andar.
Apesar do vento, o mar estava calmo,
como se fosse um dia de verão.
O namorado a pegou pelos ombros,
posicionou-a em direção ao horizonte
e só depois permitiu que retirasse a venda,
o que ela fez com toda a calma do mundo,
saboreando o momento.
Os olhos demoraram alguns segundos
para se acostumar com a luz,
tornando a cena ainda mais intensa,
já que a imagem apareceu paulatinamente,
como um espetáculo que se descortina para o espectador.
Cento e vinte barcos de papel machê navegavam em círculos.
Nas pequenas velas que os impulsionavam era possível
ver o nome dela escrito com letras góticas,
além de um coração estilizado que o envolvia.
Os amigos do casal, todos adolescentes,
aplaudiam o gesto romântico,
do qual haviam sido cúmplices e artífices.
Dos dedos de Solano surgiu uma linha de naillon
presa a um dos barquinhos,
que estava próximo da areia.
Ele puxou o fio lentamente, em movimentos sincronizados,
para não derrubar a embarcação. Na ponta do mastro,
havia uma aliança de ouro cuidadosamente amarrada,
cuja gravação no interior trazia o nome de ambos
e um sinal místico que só eles compreendiam.
Não foi preciso dizer mais nada, apenas ouvir a resposta.
- Eu aceito.
Os amigos ergueram os copos em torno
da gigantesca toalha estendida na areia,
cujos isopores com cerveja dividiam espaço
com doces e salgados comprados numa padaria do bairro.
As lágrimas eram coletivas.
Depois do almoço, Solano colocou o isopor na cabeça
e partiu com a namorada.
O amor juvenil precisava de atitude.
O amor juvenil precisava ser carregado.

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