Nada como um amor juvenil.
(...)O amor juvenil é sincero, úmido, urgente.
(...)O amor juvenil não precisa de explicação, é autorreferencial,
um vício desde o início, como diria o Caetano.
Mas o melhor dos vícios, cuja dependência é tudo que queremos.
É verdade que Luana já não era tão juvenil assim:
É verdade que Luana já não era tão juvenil assim:
tinha o cabelo pintado, um passado de guerrilha
e já espalhava creme da Victoria Secret’s por todo o corpo.
E ele... Bem, ele era ainda mais velho,
com uma barba cerrada que a machucava,
algumas rugas de expressão e boas histórias pra contar.
Mas não tinham dúvidas:
eram ambos adolescentes, passionais, loucos.
Eram ambos irresistíveis um para o outro.
Impossível não lembrar das vezes em que andavam
Impossível não lembrar das vezes em que andavam
de mãos dadas pelas ruas de um certo balneário.
Em uma delas, durante um passeio pela orla,
ele a pediu em casamento.
O dia estava feio, nublado, avesso a qualquer tipo de romantismo.
(...)Não enxergava pieguice em nenhuma manifestação amorosa.
Para ser completo, o amor precisava ser ridículo,
precisava de extravagâncias e, acima de tudo,
precisava de testemunhas.
No meio da caminhada pelo calçadão,
ele a convidou para almoçar.
Um convite estranho para o horário: onze e meia da manhã.
Mas ela não recusou, nem mesmo quando recebeu
a pequena faixa de pano e o pedido para que vendasse os olhos.
- O que é isso, Solano?
- Confia em mim, meu amor.
- O que é isso, Solano?
- Confia em mim, meu amor.
Andaram por mais alguns metros
até uma pequena escada que levava à praia.
A areia penetrou nas sandálias,
deixando-a ainda mais intrigada.
Vamos almoçar à beira-mar?
Calma, estamos chegando.
(...)Vendada, Luana aproveitava os outros sentidos para se localizar.
Ouvia poucas vozes.
O cheiro de maresia ficava mais forte a cada passo,
embora se misturasse com um aroma incomum,
de difícil identificação.
Um gosto doce tomava conta do palato,
talvez influenciado pelo tal aroma desconhecido.
Quando sentiu a água bater nos tornozelos,
Quando sentiu a água bater nos tornozelos,
Solano pediu que parasse de andar.
Apesar do vento, o mar estava calmo,
como se fosse um dia de verão.
O namorado a pegou pelos ombros,
posicionou-a em direção ao horizonte
e só depois permitiu que retirasse a venda,
o que ela fez com toda a calma do mundo,
saboreando o momento.
Os olhos demoraram alguns segundos
para se acostumar com a luz,
tornando a cena ainda mais intensa,
já que a imagem apareceu paulatinamente,
como um espetáculo que se descortina para o espectador.
Cento e vinte barcos de papel machê navegavam em círculos.
Cento e vinte barcos de papel machê navegavam em círculos.
Nas pequenas velas que os impulsionavam era possível
ver o nome dela escrito com letras góticas,
além de um coração estilizado que o envolvia.
Os amigos do casal, todos adolescentes,
aplaudiam o gesto romântico,
do qual haviam sido cúmplices e artífices.
Dos dedos de Solano surgiu uma linha de naillon
presa a um dos barquinhos,
que estava próximo da areia.
Ele puxou o fio lentamente, em movimentos sincronizados,
para não derrubar a embarcação. Na ponta do mastro,
havia uma aliança de ouro cuidadosamente amarrada,
cuja gravação no interior trazia o nome de ambos
e um sinal místico que só eles compreendiam.
Não foi preciso dizer mais nada, apenas ouvir a resposta.
- Eu aceito.
Os amigos ergueram os copos em torno
- Eu aceito.
Os amigos ergueram os copos em torno
da gigantesca toalha estendida na areia,
cujos isopores com cerveja dividiam espaço
com doces e salgados comprados numa padaria do bairro.
As lágrimas eram coletivas.
Depois do almoço, Solano colocou o isopor na cabeça
Depois do almoço, Solano colocou o isopor na cabeça
e partiu com a namorada.
O amor juvenil precisava de atitude.
O amor juvenil precisava ser carregado.
O amor juvenil precisava ser carregado.
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