segunda-feira, 17 de maio de 2010

Terapia


Todo encontro é tb despedida.
Claro que entendi, doutora.
Sou neurótica,mas não sou ignorante.
(...)Terapia de casal é pra juntar o casal,
não pra separá-lo.
Não é isso, doutora?
Como não sabe?
Depende do que?
De mim é que não pode ser.
Vim aqui por causa dele.
Por mim, já estaríamos em lua de mel
pela Europa, alimentando os pombos
na Praça de São Marcos,
subindo no Arco do Triunfo,
comendo pastéis de nata
no Mosteiro dos Jerônimos.
Tudo bem,vou confessar:
não estamos juntos há dez anos.
É muito menos.
Só que parecem dez anos de verdade.
Conheço cada detalhe do Carlinho,
cada cheiro,
cada passo,
cada gosto,
cada riso,
cada espirro,
cada camisa,
cada botão de camisa.
Ele tb me conhece.
Não é ,Carlinho?
Conta pra ela!
Eu sou Olga,doutora.
Não tenho mistérios.
Sou transparente(...)
Olha pra minha unha, doutora.
Estou horrível!
Não tive tempo de passar na manicure.
Nem no cabelereiro.
Na semana passada,a menina do salão disse:
Olga,esse teu cabelo parece
uma esponja de banheira.
Fiquei arrasada.
Mas o que eu podia fazer?
Não dava tempo para uma escova completa.
Tinha que pegar
o terno do Carlinho no tintureiro.
(...)Não, o Carlinho não foi meu 2º namorado.
Nem o 3º, nem o 4º, nem o 5º.
Vai ser muito cafona se eu
falar que foi o único,mas é isso mesmo.
Sinto como se fosse o único pelo qual
vale à pena estar aqui,
nesse consultório escuro, contando minha vida.
Pq querem tirá-lo de mim ,doutora?Pq?

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