Sexta-feira.
Mesa posta.
Na sala, burburinho de vozes e risos.
Ele sentou-se na varanda,
perdeu o olhar no infinito,
e teve a solidão por companhia.
A vida de André fora uma grande mentira.
Quando morreu,
adornaram-lhe o caixão com lindos lírios de plástico.
No palco,
dois atores sem talento encenavam um texto sem paixão.
Era a arte imitando a vida.
Quando conheceu Marcos,
descobriu que não há necessidade de falar sobre semiótica durante as preliminares.
Agora tem orgasmos múltiplos.
A velha sovina morreu.
Deixou à irmã o coração,
ao irmão o fígado,
à prima a córnea direita
e ao primo a esquerda.
O gato herdou a mansão.
Naquele final de manhã, quis lançar-lhe uma praga.
Mas seria um desperdício gastar com ele tanta energia.
Achou melhor comprar um vestido novo.
Há muito não se toleravam,
mas a hipótese de um deles ficar sem o gato
era a única razão para ainda não se terem separado.