Olhou ao seu redor e só encontrou um enorme vazio.
Finalmente, percebeu que na busca por novos amores,
não teve tempo para viver um.
Sua roupa de anjo era linda, tule suíço, arminho francês.
Acompanhava o andor em fervorosa devoção.
Rezava para que o santo não caísse.
Abriu as cortinas e deixou que a luz do dia visitasse a sala.
Agora não estava mais sozinha.
O músico era tão perfeccionista que naquela tarde,
quando seu gato miou uma oitava acima,
não hesitou em atirá-lo pela janela.
Já tinha plantado uma árvore,
feito um filho,
escrito um livro.
Triste, percebeu que só lhe faltou viver...
Mesmo após a terceira dose,
ele ainda continuava a lhe parecer completamente estúpido.
Quando olhou seu rosto no espelho,
percebeu que as rugas não lhe traziam a angustia da velhice,
mas a certeza de que agora podia dizer o que queria.