quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

E havia uma gramática que dizia assim:

"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica pessoa, animal ou coisa:
João, sabiá, caneta".
Eu gosto das coisas.
As coisas sim !...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.
As coisas são quietas.
Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra.
Um armário,
um ovo, nem sempre, ovo pode estar choco: é inquietante...
As coisas vivem metidas com as suas coisas.
E não exigem nada. Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Para quê?
Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso...
João só será definitivo quando esticar a canela.
Morre, João... Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde.
Macio, aspero, rente,escuro, luminoso, sonoro, lento.
Eu sonho com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
como decerto é a linguagem das plantas e dos animais...ainda mais.
Eu sonho com um poema cujas palavras sumarentas
escorram como polpa de um fruto maduro em tua boca
um poema que te mate de amor
antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto... "
(Mario Quintana)