segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Do lado ou de frente?


'Divido os casais entre aqueles que sentam
um ao lado do outro e os que ficam
um em frente do outro.
É um detalhe determinante na relação,
como segurar as mãos da namorada
como uma esponja ou entrelaçar os dedos.
Os que ladeiam a montaria das cadeiras
não infundem paixão.
São mais amigos do que amantes.
Quase irmãos:mudos, telepáticos.
Repartem igual a perspectiva da paisagem.
Não completam a s observações,
repetem as versões do lugar e do momento.
É triste qdo são abduzidos por um programa de Tevê.
Distraídos entre si,já se esgotaram,
almoçam e jantam fora unicamente para comer.
(...)Não há concentração no rosto da companhia.
Dependem do que acontece externamente
para encontrar assunto.
Podem sussurrar e beijar com mais facilidade,
mas são os que menos beijam e se acariciam.
Não há paredes de braços para confidências
e angustiada aproximação do peito na quina para se ouvir.
Não empurram a garrafa, os copos,
o mal-estar e os arranjos para não perder a permanente
perseguição das pupilas.
(...)me incomoda a falta de provocação frontal,
do desafio dos gestos,
dos avanços das pernas debaixo da toalha.
Evocam desconhecidos em refeitórios de empresas,
reunidos somente pela cadeira vazia
e ausência de mesa própria.
Retratam o cansaço no ônibus de passageiros
retornando do trabalho.
Chamam o garçom, aliviados,
esticando a cordinha da parada.
Descem em silêncio
para seus problemas.
Pertenço ao grupo que senta
frente a frente.
(...)Aponto a faca e o garfo
dependendo das frases.
(...)Preservo a minha namorada
para a troca de críticas e de ofensas.
Não a salvo da demonstração do afeto.
O desejo contraria o conforto.
Todo beijo caminhará uma quadra de linho.
(...)Por um instante, breve
e memorável instante,
a mesa conhece a vastidão da cama'.
(Mulher Perdigueira -Do lado ou de frente?-Carpinejar)

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