terça-feira, 1 de janeiro de 2008

INTUIÇÃO

A intuição não tem nada de sobrenatural. É uma capacidade do cérebro.
Carl Gustav Jung a comparou a uma bússola, uma função da psique que desvenda possibilidades. Envolve a comunicação dos dois hemisférios do cérebro: o esquerdo, que é racional e armazena dados concretos - números, palavras e regras; e o direito, responsável pela linguagem não-verbal - símbolos, imagens e sensações.
Relacionar o que vem de um e do outro é intuir.
A questão é como interpretar o que está lá dentro.
O processo não é lógico nem linear.
Sensações não seguem regras cartesianas, não são concatenadas, não obedecem a uma ordem temporal:
aqui, quem dita as regras é o inconsciente.
Trazer para a consciência esse conhecimento interior significa dar vários passos.
Resgatar os sinais dos cinco sentidos é um dos primeiros.
Conseguir relacionar e interpretar dados objetivos e subjetivos é um dos mais difíceis porque o lado racional tende a desprezar o acaso, as emoções e impressões.
Prestar atenção tem peso decisivo:
“Não precisa ser vidente.
A atenção torna as coisas evidentes",
diz a psicóloga Lúcia Rosemberg.
Definir um foco de atenção é mais do que uma rima para ativar a intuição
- o termo vem do latim “intueri", que significa “olhar atentamente".
Limpar a cabeça e se distanciar do problema ajuda a focalizar o que parece estar escondido.
Albert Einstein costumava fazer palavras cruzadas para distrair a mente e permitir que a intuição se manifestasse.
Para os cientistas, intuir significa conjugar fatos que, à primeira vista, não têm ligação.
“A pessoa é mais intuitiva quanto maior for seu banco de dados e sua capacidade de interpretá-los", diz o neurologista Arthur Oscar Schelp, professor da Unesp.
Ou seja: quem tem mais conhecimento armazenado vê o que os outros não enxergam.
A intuição não despreza o conhecimento, mas elabora a informação de maneira diferente da mente lógica.
É um processo de compreensão instantânea que começa, às vezes, da mera percepção do acaso.
Intuição é um insight que acontece depois de uma recombinação inconsciente de fatos, observações e sensações.
Talvez por isso a intuição seja relacionada à mulher, mais ligada à sensibilidade, receptividade, compreensão, subjetividade.
“São atributos femininos, mesmo no homem”, diz Lúcia Rosemberg.
Tudo o que cada pessoa percebe, sente, sonha, lembra tem significado.
A educação voltada para a lógica bloqueia a capacidade de interpretar esses dados.
“É preciso dar crédito àquilo que não é comprovado, mas é inegável”, sublinha a terapeuta.
Abrir na rotina um tempo para silêncio e recolhimento ajuda.
Registrar e interpretar sonhos e impressões também, porque essas práticas facilitam o acesso ao mundo interno.
Intuição, todo mundo tem.
As respostas estão todas dentro, a trilha de acesso é sempre individual.
marie claire.112.julho.2000