sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Somente

Não percebia quando o desconforto era emocional: era o estômago que doía, a boca que secava, eram as mãos frias.Não era raiva, não era angústia, não era medo.Para ela era físico, nunca o emotivo. Dizia “adeus”, assim, como quem dispensa a sobremesa pra tomar um chope.Dizia “sim” ou “não” como quem escolhe a cor do esmalte.Um dia, quando bateu o vazio, elaborou rapidamente uma saudade. Mas não sabia de quem, de onde, do quê. Não precisava. Era ela e a saudade de qualquer coisa que ela trocou por um chope, de qualquer noite que ela substituiu por uma tarde, de qualquer emoção que ela nem se lembrava mais. Mas que trazia uma certa languidez pro olhar e uma tensão pra expressão facial que ela pretendia.Só pra valorizar a maquiagem mesmo.
(Marla Queiroz)

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