terça-feira, 30 de outubro de 2007

Delicatessen

Nasci sob o signo de Vênus.
Num mapa com muito ar e nenhuma terra.
Isso explica muito.
Eu não me sinto bem no chão.
A vida não parece ter me dado certidão nem coordenadas.
Não sei conduzir nada.
Nem entendo de direção – meridianos, pontos cardeais – sou perdida mesmo. Aprecio, mais que tudo, as janelas.
Careço de ver a cor das roupas balançando nos varais, os meninos correndo, a mulher que rega a planta, os cavalos.
Gosto do cheiro de mato molhado ardendo na narina, logo cedo, com a cara amassada e o sol filtrando a cortininha.
O rapaz na bicicleta e os seus cabelos voadores.
Alguém que sorri e eu acredito ser para mim.
Chegar não importa.
Não existe o tal lugar.
Existe o mundo.
Não compreendo o instinto das bússolas e rasurei as linhas turvas de meu mapa.
Só sei que não preciso mesmo ficar, se não quiser.
Há sempre um trem partindo ali, onde o horizonte não acaba.

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