sábado, 11 de julho de 2009

Das pessoas e dos livros


ººA escrita é uma das grandes invenções da humanidade,

junto com as máquinas simples,

a matemática,

o desodorante

e outras criações que nos afastaram

das onças e pernilongos.

Os místicos entendem que as letras

foram uma revelação divina

e que as palavras guardam poderes mágicos;

os pragmáticos entendem

que a memória é traiçoeira

e que somos uma espécie mentirosa,

portanto convém registrar acontecimentos e acordos.

Além dos contratos e registros contábeis,

a escrita permitiu a invenção de um objeto muito singular,

capaz de vencer o tempo e a distância:

o livro.

(...)

ele pode ajudar a ocupar o tempo ocioso,

diminuir (ou aumentar) a ignorância,

reduzir o sentimento de solidão

e até servir de calço de mesa,

como no filme Leolo, no qual no protagonista

o tira dessa nobre função

para usá-lo como um escudo (metafórico)

contra sua realidade familiar patogênica.

Há quem nunca tenha aberto um livro na vida,

seja por desinteresse ou falta de oportunidade,

como também há quem prefira

a companhia dos livros à das pessoas.

Eu vivo uma dualidade:

gosto de ambos e não consigo me manter fiel a nenhum.

Já deixei de ir a festas para terminar bons livros,

como também interrompi leituras para ir a churrascos

com muito truco, piadas, cerveja e conversa fiada.

Há momentos em que, no meio da leitura,

sinto uma vontade súbita de conversar com alguém

- geralmente às três da madrugada.

Outras vezes, em meio a muita gente,

pego sorrateiramente um livro e saio de fininho.

Não dá pra "abrir" ou "fechar" as pessoas

quando se tem vontade (sem trocadilhos sobre cirurgiões),

nem como fazer um livro lhe escutar.ºº

(Blog Soco no Figo)

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