terça-feira, 4 de março de 2008

NORMOSE


Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos,

considerado o fundador da ioga no Brasil,

ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente:

ele disse que o ser humano está sofrendo de normose,

a doença de ser normal.

Todo mundo quer se encaixar num padrão.

Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar.

O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido.

Quem não se "normaliza" acaba adoecendo.

A angústia de não ser o que os outros esperam de nós

gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações

de não enquadramento.

A pergunta a ser feita é:

quem espera o que de nós?

Quem são esses ditadores de comportamento

a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?

Eles não existem.

Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo

que você seja assim ou assado.

Quem nos exige é uma coletividade abstrata

que ganha "presença" através de modelos

de comportamento amplamente divulgados.

Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos,

seja lá quem for todos.

Melhor se preocupar em ser você mesmo.

A normose não é brincadeira.

Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia

de querer o que não se precisa.

Você precisa de quantos pares de sapato?

Comparecer em quantas festas por mês?

Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Não é necessário fazer curso de nada para aprender

a se desapegar de exigências fictícias.

Um pouco de auto-estima basta.

Pense nas pessoas que você mais admira:

não são as que seguem todas as regras bovinamente,

e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria

e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.

Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula,

não patentearam, não passaram adiante.

O normal de cada um tem que ser original.

Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros.

É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu não sou filiada, seguidora, fiel,

ou discípula de nenhuma religião ou crença,

mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover

obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.

Por isso divulgo o alerta:

a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres

que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

Martha Medeiros