quarta-feira, 19 de março de 2008

Amantes

"Fogo e gasolina.
Os dois eram assim.
Parecia que o mundo se dissolvia ao redor deles
quando os lábios se tocavam,
e qualquer noite ficava curta demais.
Redescobriram o sentido da palavra "amantes"
dando a ela as cores de quem trata o "fazer amor"
como arte a ser cuidadosamente estudada
e reinventada a cada encontro.
O desejo era a sua linguagem, mas não existia só.
Nunca passearam na praça de mãos dadas como namorados,
mas o simples toque suave nos cabelos dele
era uma longa e terna caminhada.
Nunca foram ao cinema ou saíram para tomar sorvete,
mas os olhares que ela recebia traziam a paz de uma tarde de domingo.
Eram, enfim, a plena realização de algumas faces do amor
e a plena ausência de muitas outras.
Uma relação feita de beleza impensável a cada início
e tristeza infinita a cada abotoar de roupas.
Quando deixaram de se ver, pelas armadilhas costumeiras do tempo e da distância,
tornou-se para ele impossível então vestir-se.
E seguiu vivendo nu,
preso por um amor que foi o mais completo,
mesmo nunca tendo sido inteiro."
(Devaneios e Desabafos – Renata)