sexta-feira, 14 de março de 2008

A Armadura Moderna

...A força da vida era dolorida....
Ela acordava cedo, olhos inchados.
Ao se levantar da cama, sentia os pés arderem no chão gelado.
A cada passo até o banheiro seu corpo estremecia e suava frio:
era desespero lhe explodindo os poros, era a vida amanhecendo
e a jogando para um cotidiano febril....
Não queria mais aquela rotina de mulher moderna, cheia de afazeres.
Desejava apenas sua cama e suas tarefas domésticas tão realizáveis.
Sob o chuveiro, imaginava que a água levava pelo ralo toda sua revolta
pelo despertar do dia.
Ao banho cabia sempre a função de filtro entre sua vontade de permanecer
dona de casa, e a necessidade de se jogar à vida que a esperava na rua....
Ela resistia, mas depois de lavada com água e espuma,
vestia-se com o empreendedorismo feminino e fingia satisfação o dia todo....
Tudo recomeçava à noite.
Samantha Abreu