sexta-feira, 19 de março de 2010

medos


...'Ele, então, afogou a mágoa no colo de outra;
ela, em desespero, ficou sozinha um bom tempo,
até poder amar de novo.
E, quando amou novamente,
amou tanto como o tinha amado.
Mais: pois nesse amor não havia medo.
Ele teve outras mulheres,
mas não com a mesma intensidade.
Quanto mais o tempo passava,
mais presente ela ficava na memória dele;
e mais distante ele, na memória dela.
Só ele podia se arrepender:
ela tinha feito tudo,
tinha ido até seus limites,
além deles. E agora, quando ele a vê,
depois de trinta anos, entende tudo:
entende que ela viveu sem ele,
amou outro homem e foi feliz.
Entende que, no coração,
ela o esqueceu.
Ele não.
Durante esses trinta anos,
não houve dia em que a dúvida
não viesse assombrá-lo:
tinha feito a escolha certa?
E agora, quando a vê,
ele entende que ela o teria amado,
que suas palavras eram verdadeiras
e nunca o teria abandonado.
Agora, ele entende tudo.
Mas já é tarde demais.'
trecho de Tarde Demais
Blog Vida Breve
Tatiana Salem Levy

Um comentário:

Isadora disse...

Ai Dani, achei lindo! Meus olhos encheram de lágrima!
Mas como eu sempre digo, vida que segue né.
Um beijinho