quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Parábola dos espelhos

Aconteceu um dia que todos os espelhos entraram em greve. Não bem uma greve, porque a falta de disposição para refletir os impedia de apresentar reclamações coerentes ou fazer exigências claras. Simplesmente deixaram de funcionar; e em pouco tempo as pessoas tiveram que se habituar a perguntar aos familiares, ao cônjuge, ao porteiro ou ao cobrador de ônibus se o nó da gravata tinha ficado bom, ou se o batom não tinha ido parar nos dentes. Até que a situação foi se tornando insustentável, porque a opinião dos familiares quase nunca correspondia à opinião do cônjuge, e as mulheres em geral achavam bem suspeitas as sugestões dos porteiros e dos cobradores e definitivamente pouco confiáveis as das outras mulheres. E mesmo depois de enriquecerem absurdamente os cabeleireiros, maquiadores e consultores de moda ao redor do mundo, as pessoas continuavam infelizes porque é mesmo insuportável uma vida em que não se pode ver o próprio rosto. Então, ao ouvir isso, alguns espelhos tiveram que sair de sua letargia para contestar, indignados: Mas vocês acham mesmo que era isso que a gente mostrava?!

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