segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Nunca o mesmo


Panta rei,
diz Heráclito,
se é que disse.
Tudo corre,
tudo passa,
tudo flui.
Não posso entrar
no mesmo rio duas vezes,
porque não será mais
o mesmo rio.
Muda o rio, mudo eu?
Mas, então, a minha nuca
que recebeu hoje um beijo
e sentiu hoje um arrepio,
amanhã
-tomara os receba e sinta-
não será mais a mesma nuca?
Ou não serão os mesmos pêlos
a se eriçarem?
Ou não a beijará a mesma boca,
ainda que seja a mesma?
E o caminho que percorro
todos os dias até o trabalho,
como posso sentir
por isso tamanho tédio,
se tudo já mudou?
Cada árvore,
cada passeio e passeante,
cada carro e cada nuvem,
cada som e cada cheiro
e cada cor,
cada eu que já passou.
Se já não sou a mesma de ontem
e não serei eu-hoje amanhã,
então, quem sou?

Nenhum comentário: