sábado, 3 de março de 2007

Carta aberta a classe média

Meu Blog não é só besteira...precisa de bobeira também, mas abordo assuntos sério.
Muito sérios, como a questão da educação.
Como mediadora da Comunidade "Sem Educação não tem solução", gostaria que lessem o depoimento de um dos integrantes, Bernardo, sempre com colocações bastante pertinentes e reflexivas da nossa posição na sociedade.Ele termina seu depoimento xom um vídeo musical imperdível!
Vamos refletir e ver o que estamos realmente fazendo pela nossa rua, pelo nosso bairro, pela cidade, pelo país...pelo MUNDO:

CARTA ABERTA A CLASSE MÉDIA!

Nada no Mundo acontece sem, no mínimo, a aquiescência da Classe Média. Apesar de uma burguesia reacionária, é nela que se concentra a quase totalidade dos professores, médicos, advogados, engenheiros e demais profissionais liberais, além de comerciantes, estudantes universitários, jornalistas e artistas diversos. Ou seja, pessoas que tem a possibilidade de elaborar qualquer tipo de pensamento crítico, sem a necessidade de se preocupar com o fato de que, após o exercício reflexivo, terá ou não alguma coisa sólida para alimentar seus estômagos. Qualquer semente de mudança deverá germinar primeiro no solo fértil da classe média, uma vez que os pobres e miseráveis preocupam-se apenas com a sobrevivência e as elites com a manutenção desse estado de coisas, cada vez mais lucrativo e excludente. Fico honrado em compartilhar essa conclusão com o Mestre Darcy Ribeiro em seu livro O POVO BRASILEIRO.Entretanto, estando nós com esse poder nas mãos, por que não o usamos? Por que a classe média se deixa humilhar, tornando-se presa fácil, tanto da violência dos excluídos, quanto das manipulações do Estado?O Poder Econômico, apoiado por uma mídia eficiente nos enquadrou em uma nova categoria de seres humanos. Passamos de honrados cidadãos a meros consumidores. Não mais somos avaliados por nosso caráter, por nossa cultura e sim por nossa mera capacidade de consumir, ao mesmo tempo em que achatam nossos salários, nos desempregam, empurrando-nos na direção dos pobre, o nosso real terror!Aproveitando um termo tão em moda, estão `esculachando´ a classe média.Porém, como disse na primeira frase desse meu desabafo, tudo isso não está acontecendo à nossa revelia. Faltam arquivos no cartório para todas as nossas culpas. Como mariposas alçamos nosso vôo em direção à luz. Na ânsia pela riqueza fomos desprezando o fundamental pelo caminho. Passamos a pensar de modo egoísta e conservador, assim como os ricos, mas sem o igual lastro nas nossas contas bancárias...

Enquanto nosso ensino público ia pro espaço, matriculamos nossos filhos em instituições privadas e pau no burro, os pobres que se virem. Quando a saúde publica passou a esperar seu atestado de óbito, orgulhosos aderimos aos planos de saúde. Passamos a abominar manifestações públicas de protesto, que não passavam de ridículas badernas, participando somente daquelas promovidas por artistas, com camisetinhas brancas e pela orla marítima, as quais, desconfio, tínhamos a consciência de serem inócuas, mas eram tão bonitinhas... Quando eu era garoto vi uma passeata assim na Rio Branco, mas isso é uma outra história. Esnobes, incorporamos o comportamento politicamente correto, como se fosse possível bastar a um homem ser correto em apenas alguns segmentos da vida para ser um bom sujeito. Incentivamos nossos filhos a serem vencedores e eles sem saberem ao certo o que seria isso, buscaram conselhos químicos nas ruelas dos morros. Na busca egoísta da felicidade destruímos nossas famílias, formamos outras e ficamos mais fracos. Fomos intransigentes com o próximo e coniventes com o poder. Paramos de pensar, na medida em que nos foi apresentado um pensamento único `prêt-à-porter`, que nos livrou da desagradável tarefa de encararmos nossas próprias deficiências. Resumo da ópera: nos transformamos em bobos da corte, que vivem entre os nobres no horário do expediente, mas recolhem-se aos quartos miseráveis, enquanto a luxúria come solta nas alcovas refinadas.Como era de se esperar, se de fato fossemos bons observadores da natureza, o frenesi do início do vôo passou a dar lugar ao desespero da queda das mariposas.Umas, exaustas, vão ao solo em queda livre e outras se carbonizam no calor da luz. Os planos de saúde foram ficando cada vez mais caros e as mensalidades escolares também. Passamos a andar em kombis, inadequadas até para transportar cebolas.

Os ricos e os políticos desviam as verbas que nos favoreceriam e os excluídos roubam nossos carros, dão tiros na nossa cara, matam ou viciam nossos filhos e, numa verdade inconsciente, nos ensinam: PERDEU OTÁRIO!Nos anos 70 um professor de história de um colégio do subúrbio do Rio de Janeiro avisou a turma da qual eu fazia parte: Meu queridos, quando o morro descobrir que só tem a vida a perder nós estaremos perdidos aqui embaixo. O morro já sabe disso. Durante anos deixamos que os guetos fossem criados. Ajudamos as elites a torpedear projetos como o dos CIEPs, já que nossos filhos jamais estudariam neles. Estamos pagando o preço pela omissão. Estamos pagando alto pela falta de compromisso com os menos favorecidos. Achamos ridículos nossos aumentos salariais, na mesma proporção em que julgamos corretos o acréscimo de poucos reais ao salário mínimo que regula o pagamento das nossas empregadas. Qualquer ser humano com a carga mínima de neurônios já poderia antever o futuro que nos esperava. Um futuro que pode ser ainda pior do que o presente, onde o papel da classe média é de cúmplice e ao mesmo tempo vitima. Adoramos o ídolo errado. Deixamos que nos retirassem os referenciais, nossos valores, nossa dignidade. Nossa indignação dura uma semana e após esse prazo, como um produto qualquer nessa prateleira ética, perde a validade e nada muda.Termino meu manifesto solitário sem enxergar a luz no fim do túnel. Estou indignado com a sociedade em que vivo (que não se reduz apenas ao Brasil), com a classe média lobotomizada da qual ainda faço parte.

RESUMO: http://www.youtube.com/watch?v=ROHY9T6RNL8

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