quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Da Vinci


Ao conceber seu famoso afresco “A última Ceia”,

Leonardo da Vinci deparou-se com uma grande dificuldade:

precisava pintar o Bem - na imagem de Jesus

- e o Mal - na figura de Judas.

Resolveu sair procurando por Milão

os modelos que representassem os dois.

Certo dia, enquanto assistia um coral,

viu em um dos rapazes a imagem ideal de Cristo.

Convidou-o para o seu ateliê,

e reproduziu seus traços em estudos e esboços.

Antes de o rapaz sair, mostrou-lhe a idéia do afresco,

e elogiou-o por representar tão bem a face de Jesus.

Passaram-se três anos.

A “Santa Ceia”, que enfeitava uma das igrejas

mais conhecidas da cidade, estava quase pronta

- mas Da Vinci ainda não havia encontrado

o modelo ideal de Judas.

O cardeal, responsável pela igreja,

começou a pressionar Da Vinci,

exigindo que terminasse logo o seu trabalho.
Depois de muitos dias procurando,

o pintor encontrou um jovem

prematuramente envelhecido, esfarrapado,

bêbado, atirado na sarjeta.

Com dificuldade, pediu a seus assistentes

que o levassem até a igreja,

pois já não tinha mais tempo de fazer esboços.

O mendigo foi carregado até lá,

sem entender direito o que estava acontecendo:

os assistentes o mantinham de pé,

enquanto Da Vinci copiava as linhas da impiedade,

do pecado, do egoísmo,

tão bem delineadas naquela face.

Quando terminou o trabalho, o mendigo

- já um pouco curado de sua ressaca -

abriu os olhos e notou o afresco na sua frente.

E disse, numa mistura de espanto e tristeza:

- Eu já vi este quadro antes!

- Quando?

- perguntou um surpreso Da Vinci.

- Há três anos atrás,

antes de eu perder tudo que tinha.

Numa época em que eu cantava num coro,

e o artista me convidou para posar

como modelo para a face de Jesus.

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