domingo, 23 de novembro de 2008

Perdas e Ganhos

"Quando se trata de ganhar,
nossa aversão ao risco é muito maior
do que quando se trata de perder.
Em outras palavras,
não é para ganhar,
mas para não perder
que estamos dispostos a mais sacrifícios.
Para não perder,
estamos até prontos a correr o risco
de perder mais ainda.
De fato, muitos jogadores
conseguem deixar a mesa
quando estão ganhando,
contentando-se com o dinheiro
que levarão para casa,
mas são poucos os jogadores
que conseguem parar de jogar
quando estão perdendo.
Em regra,
o jogador não se resigna às perdas
e segue apostando e acreditando
numa mudança da sorte,
até esgotar sua conta e seu crédito.
Outro exemplo é o do investidor
que se agarra a ações
que declinam ruinosamente
e prefere esperar um milagre a vender
e limitar seu desastre.
A descoberta de Kahneman e Tversky
se aplica fora do âmbito
estreitamente econômico:
na hora de arriscar,
o que fala mais alto é o medo de perder.
Quando limitamos medrosamente nossos sonhos,
o que vale não é tanto a vontade
de torná-los mais razoáveis e realizáveis,
mas o medo de abandonar o conforto resignado do status quo.
Os psicanalistas dizem a mesma coisa,
em termos apenas diferentes:
não há desejo sem perdas,
e quem não aceita perder
se impede de desejar."
[Contardo Calligaris, via Folha de S.Paulo, 29/12/05]

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