segunda-feira, 16 de junho de 2008

O Solilóquio

Vocábulo de origem latina "Soliloquiu(m)", cujo significado é [loqui] falar [solus] sozinho.
Na literatura esse termo foi cunhado por Santo Agostinho no seu "Líber Soliloquium".
Pode ocorrer tanto no teatro como no romance.
O solilóquio presume que a personagem, sozinha em face do auditório
e do leitor como se estivesse inteiramente desacompanhada de qualquer outra,
articule seus pensamentos em alto e bom som.
O solilóquio consiste na oralização do que se passa na consciência do protagonista.
Aí está a diferença do monólogo interior.
Neste a oralização se passa no subconsciente do protagonista,
de modo que suas emoções e idéias são estruturadas de forma ilógica e incoerente;
já o solilóquio, por se passar no consciente da personagem,
suas idéias e emoções são estruturadas de maneira coerente e lógica,
ainda que partindo de um pensamento psicológico e não-racional.
Considera-se inexistente, no solilóquio, a intervenção do escritor;
a personagem se comunica diretamente com o leitor.
Daí ser empregado nas circunstâncias em que o escritor deseje
que a personagem expresse com meios próprios o que lhe vai à consciência.
O solilóquio é feito sempre na primeira pessoa
e dirige-se ao leitor como se a personagem dialogasse com uma interlocutora calada,
com uma diferença: no solilóquio é possível dizer tudo o que se passa pela mente,
enquanto o diálogo não permite visto ser uma relação.
Nos séculos XVI e XVII foi usado regularmente, como se observa, por exemplo, na obra de Shekespeare, "Hamlet", que apresenta o conhecido solilóquio “To be or not to be”.
Existe uma confidência, coerente, lógica, que a personagem faz a você.
No teatro, sobretudo entre o século XVI e meados do XIX,
empregava-se um truque aparentado ao solilóquio:
o aparte:
Consiste no recurso de a personagem manifestar os seus pensamentos
de tal forma que só se tornem audíveis a platéia
e não pelas demais figuras em cena,
transformando, assim, a platéia em verdadeiro confidente.

O Monólogo Interior
Ricardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 08/03/2007