sábado, 27 de fevereiro de 2010

O maior sedutor


(...)Carrego, portanto,
a certeza
de que o maior sedutor
não é o malandro,
não é o esperto,
mas o monogâmico.
O fiel.
O que tem olhos
apenas para sua a patroa.
Ele não pescará decotes
mais profundos na vizinhança.
Deslizará protetor
em sua mulher,
com calma oriental,
comovido,
o olfato sinceramente interessado.
Acompanhará as mãos com o corpo.
No fim, se aproximará dos ouvidos
para sussurrar uma barbaridade.
O arrepio feminino produzirá
um maremoto de cangas
nas proximidades.
Não precisa de mais nada
para chamar atenção,
toda a praia estará
suspirando por ele.
Abrirão uma comunidade no Orkut
para homenageá-lo.
Nada mais ostensivo e perigoso
do que um homem
amando sua esposa.
Ninfetas, trintonas,
lobas e septuagenárias
vão se derreter por aquele
barbado gentil e romântico.
Vão concluir que ela é uma felizarda.
Vão arrastar as pálpebras
e tirar binóculos da bolsa
para acompanhar detalhes de perto.
Diferente da piada,
a fofoca nunca vem inteira,
ocorre em capítulos:
– Meu Deus, ele puxa a cadeira.
– Repara como ele a acompanha nas caminhadas?
– Não desgruda um minuto da mão dela!
– Foi buscar água de coco. Não duvido que sirva café na cama.
(...)

(trecho de texto de Fabrício Carpinejar)

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