quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Bicho de 7 cabeças


O relacionamento
é um bicho de sete cabeças.
Cabe decepar cinco delas
e deixar duas pensando.
Não permitir
que outras cabeças intrusas
mandem mais do que a do casal,
ainda que seja a mãe, a sogra,
a melhor amiga ou amigo.
Aprendi a amar jogando Forca na escola.
Deduzir as letras que faltam
para não deixar morrer a linguagem.
É evidente que complicamos o amor.
Pois o amor nos torna confusos,
eufóricos, instáveis.
Nada apaga a incerteza do começo.
Quando se fica junto
e ainda não se tem convicção do enlace.
Qualquer sinal pode aproximar
ou sacrificar o início.
Nenhum dos dois confessa o namoro.
Ficam juntos, não conseguem voltar para casa,
arrumam pretextos e não se fala o que se queria.
Ambos rodeiam com palavras outras
para se aproximar da palavra aquela.
Já descobriram a intimidade,
a empatia,
as afinidades,
mas há o medo de apressar.
Mas há também o medo de demorar.
Como é difícil acertar o ritmo de fora
com o ritmo de dentro.
O abraço serve para apartar
o excesso de palavras,
assim como no boxe o abraço serve
para conceder trégua aos socos.
(...)
Não se enxerga somente o passado
de quem se ama,
mas o que se oferece de futuro.
Da mesma forma,
nada apaga a incerteza do final.
Volta-se ao mesmo 'não-sei-o-quê",
o doloroso balbuciar
destinado a encerrar uma história.
Nenhum dos dois pede a conta
- o temor de que o estrago
seja maior do que o fundo.
Não se toma o partido, a iniciativa.
Há o risco de errar feio
e se enganar com a previsão.
Calam-se e discutem por qualquer coisa
porque não se tem a coragem de se discutir
o que interessa.
É um estado de nervosismo permanente,
de vulnerabilidade extremada.
(...)A falência amorosa
é como a falência de uma empresa.
As centenas de funcionários demitidos
são as lembranças.
São postos na rua preceitos,
frases e ideais antes caros à memória.
A indefinição é que faz o amor permanecer
ou ir embora.
E não existe modo de diminuí-la.
A vida se faz de expectativas.
Talvez a vida seja curta para cumpri-las,
talvez seja longa para entretê-las.
Que o amor seja indefinido para durar.
Só se fala do que se tem a necessidade de compreender.
.:Carpinejar:.

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