sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ainda no mundo da rua...

Não há vagas nos albergues e abrigos mantidos pelo Estado.
Os quatro albergues e um abrigo do município estão lotados,
enquanto o Centro de Triagem, no Alto da Boa Vista, montado para selecionar os moradores que podem pernoitar, tem até lista de espera.
Um morador de rua conta que já esteve dez vezes no centro
e não conseguiu um lugar para dormir.
Cerca de 500 pessoas dormem nesses cinco locais,
onde ficam em média de três a seis meses.
Outro ponto é o Hotel Popular, na Central do Brasil, mantido pelo governo do Estado, que cobra R$ 1 por noite.
O problema é que para passar a noite ali o trabalhador tem que exibir comprovante de residência e carteira assinada,
moeda difícil nestes dias de crise.
“Ninguém é produto do asfalto.
Essas pessoas vivem nas ruas porque foram expulsas pelo sistema”,
reconhece a assistente social Bernadette Jeolás, coordenadora do sistema de assistência social da Prefeitura do Rio, onde trabalha há 20 anos.
“Dormir na rua leva-os não apenas a ser tratados como lixo
largado na calçada, mas a perder as próprias referências.
A auto-estima se esfacela.
Com o tempo, ou a família os esquece ou eles se escondem dela,
envergonhados de dormir na sarjeta”,
define a enfermeira Eriedna Santos Barroso, 29 anos,
integrante da Médicos Sem Fronteira,
que passa parte de suas noites limpando feridas e fazendo curativos em moradores nas ruas do centro.
“Quem é mendigo hoje?
Olhando o passado dessa gente,
enxergamos nossas próprias vidas e constatamos
que qualquer um de nós podia estar ali agora”, questiona.
Quem abrir bem os olhos vai perceber que as ruas do Rio
não estão infestadas de feios, sujos e malvados.
É só querer enxergar.

"No mundo da rua"

MSF na imprensa

Revista Isto É – novembro de 2002