quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O pulo do gato

Quando não houver motivos para ficar e nem razões para partir, olhe para aquela fotografia que tanto te apraz e logo saberás que ela é uma ponte de papel a te levar e trazer, sem tristezas ou remorsos, dessa paisagem presente para uma outra, cuja nascente está em um tempo que não é longe, mas eterno. Contudo, a pergunta inevitável é: como isso acontece?
Pode-se dizer, como se diz um segredo, que é simples feito um passe de imagética mágica.
No entanto, o artista da imagem deve ter um clique preciso e suave, tal como o pulo de um gato. eis o momento certo da captura de um instante que o liberta, a luz alucinante cheia de verdade e justiça para com o que está do outro lado da câmera, a tela perfeita que ninguém pintou, mas que está lá, diante da lente, viajando na velocidade da arte e perdida para todo o sempre; ou pelo menos até que encontre o seu autor perfeito.
Essa precisão, ou melhor, essa impressão sobre-humana frente o que é belo e fugaz, é atributo apenas legado ao bom fotógrafo que, devidamente fora do foco central, torna-se um pequeno deus, simples e bom, a retratar, sem saber, suas próprias retinas ante a cena.
Enquanto prossegue esse trabalho, em silêncio, os papéis de fotógrafo e de matéria fotografada se invertem, como em um giro rápido de espelhos, voltando a si num piscar de olhos.
É nessa interminável hora que podemos ver na fotografia, além da paisagem retratada, cheia de significados e acontecimentos, o seu inverso, o fotógrafo, cheio de desejos e sentimentos para mostrar ao mundo.

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