°°A coluna era ereta
Curvou-se aos poucos
Ao longo do tempo
Os muitos tormentos
Ao longo do lombo
O queixo no ventre
Em pernas esquinas
Joelhos cadentes
Velório da mente
A forma dos loucos
A norma da sina
Imprimia seu medo
Não falava ou sorria
Preenchia em mal cheiro
As frestas, as quinas
Rasgava dinheiro
Parecia ter muito
Ninguém entendia
Qual fato fortuito?
Um nobre revolto
Caduco e errante
Seus trapos velavam
Um segredo intrigante
A cifose evidente
O casulo poente
Se arrastava nas valas
Da vida corrente
Refém de um exílio
Sem cotidiano
Sem segundas-feiras
Monstro mal-trapilho
Sem eira nem beira
A triste corcunda
Pesava-lhe a alma
Testava-lhe a calma
Sem casa, sem carros
Comia dinheiro
Um monstro de trapos
Urbano e indefeso
Não era inserido
Não era contado
Um ser esquecido
À sorte, ao acaso
Mas dizem que o monstro
Já foi diferente
Já deu conferência
Já fez reuniões
Já teve até metas
Já viu o horizonte
Já teve a coluna ereta
O monstro invisível
Já teve até amigos
Já foi um ser humano
Já foi um ser sensível
Mas hoje seus planos
São apenas olhar para o próprio umbigo°°
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