sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O monstro


°°A coluna era ereta

Curvou-se aos poucos

Ao longo do tempo

Os muitos tormentos

Ao longo do lombo

O queixo no ventre

Em pernas esquinas

Joelhos cadentes

Velório da mente

A forma dos loucos

A norma da sina

Imprimia seu medo

Não falava ou sorria

Preenchia em mal cheiro

As frestas, as quinas

Rasgava dinheiro

Parecia ter muito

Ninguém entendia

Qual fato fortuito?

Um nobre revolto

Caduco e errante

Seus trapos velavam

Um segredo intrigante

A cifose evidente

O casulo poente

Se arrastava nas valas

Da vida corrente

Refém de um exílio

Sem cotidiano

Sem segundas-feiras

Monstro mal-trapilho

Sem eira nem beira

A triste corcunda

Pesava-lhe a alma

Testava-lhe a calma

Sem casa, sem carros

Comia dinheiro

Um monstro de trapos

Urbano e indefeso

Não era inserido

Não era contado

Um ser esquecido

À sorte, ao acaso

Mas dizem que o monstro

Já foi diferente

Já deu conferência

Já fez reuniões

Já teve até metas

Já viu o horizonte

Já teve a coluna ereta

O monstro invisível

Já teve até amigos

Já foi um ser humano

Já foi um ser sensível

Mas hoje seus planos

São apenas olhar para o próprio umbigo°°

Nenhum comentário: