terça-feira, 2 de setembro de 2008

Me ensinaram que xarope rosa aplaca a gastrite,
comprimido vermelho dissolve a enxaqueca
e devemos ter diversos envelopes na gaveta,
daquilo que, dizem, é recomendado para todas as dores.
No entanto, já tive, um dia, bem menos idade
e uma cabeça de vento.
Eu achava que escrevia poesia.
Sonhava com felicidade de vento,
casa com jardim,
trabalho gratificante,
amor pra sempre.
Minhas janelas teriam lua
e meus telhados, vidro.
A vida seria uma varanda aberta.
Foi quando eu tive idéias geniosas
e planos flácidos
e acreditava piamente que chá de alho com limão
e uma única colher de mel era um remédio eficiente.
Pois as dores eram passageiras
e menores que os meus dias novos,
nascendo em manhãzinhas com cheiro incolor de água limpa.
Demorou até que eu percebesse, que, aos poucos,
meus quereres lapidados, tolhidos em reles frascos, desbotavam.
A beleza resignou-se em permanecer nos desvãos da trivialidade,
em doses proporcionais e calculadas.
E me dei conta.
De que haviam transformado as minhas vontades em pretensões.
Por isso aprendi.
A manter sempre os frascos abertos.
E os desejos livres.