domingo, 27 de maio de 2007

Doces Vontades

São doces vontades, que todos temos e poucos revelam.

Outro dia anotei algumas:

Morar em casa grande, de teto alto. Dispor de tempo para banho de banheira. Chuveiro antigo, aquele redondo e grande, água farta. Fazer um programa de rádio apenas para almas irmãs. Bater papo em bar. Comer maçã no pé. Ter singrado milhares de horas na rede da varanda, à beira-mar. Saber limpar peixe. Não ter medo de injeção e gostar de whisky. Escrever mais poesia. Ter mangueira no quintal. Ganhar abraço espontâneo de criança que não vai com ninguém.Viver à beira da lagoa de Araruama ou reatar raízes rurais, numa fazendola minha e saber lidar com terra, bois, cabras e galinhas. Pode ser em Araras.Ter uma filha de olhar meigo e doidamente apaixonada pelo pai. Ter sido de uma só turma de amigos a vida inteira. Poder comer torresmo, pimenta, lentilha e massas à vontade. Beber refresco de groselha todos os dias sem risco de diabete.Criar minhocas para exportação ou camarão da Malásia. Juntar colegas de turma três vezes por ano. Gostaria de ter uma irmã que me entendesse por antecipação. De comer palmito todos os dias. Ser cantor, maestro, santo, bom cozinheiro ou técnico de futebol. Ser rico mas viver como pobre (assim pregava Picasso). Não ter barriga. Ser menos cerimonioso com os demais. Entupir-me de quindim. Recordar diariamente as emoções inaugurais. Reter, cada vez mais, certas vivências da década de 50.Desejaria, ainda, ter vindo ao mundo a passeio e não a serviço. Ter ou dirigir uma rádio. Ser menos responsável. Dormir até tarde. Ganhar cestas de Natal. Ter conseguido estudar matemática, botânica, harmonia e regência, e muito saber sobre jacarés, baleias, borboletas. E a suprema ventura: entender de passarinho, saber fazer dezenas de camas de gato com barbante e mágicas para os netos. Ser menos eclético e dispersivo. Gostaria, por fim, de receber, pelo menos uma vez, alguma mensagem real do além. E de sempre merecer o amor de quem me adivinha sem que eu peça..
Doces vontades, doces bobagens, quem não as tem?

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