quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Quero ver o Oco


'A verdade é que cada um de nós traz vazios, por preencher, 
carências e interrogações submersas, 
desejos calcados que procura compensar da forma mais imediata. 
Não é propriamente de coisas que precisamos, 
mas, à falta de melhor, condescendemos. 
À falta desse amor que nem sempre conseguimos, 
desse caminho mais aberto e solitário que evitamos percorrer, 
à falta dessa reconciliação connosco mesmo 
e com os outros que continuamente adiamos... 
O consumo desenfreado não é outra coisa 
que uma bolsa de compensações. 
As coisas que se adquirem são, 
obviamente, mais do que coisas: 
são promessas que nos acenam, 
são protestos impotentes 
por uma existência que não nos satisfaz, 
são ficções do nosso teatro interno. 
Os centros comerciais apresentam-se 
como pequenos paraísos, indolores e instantâneos. 
Infelizmente, de curtíssima duração também.'

José Tolentino de Mendonça

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