(...)Precisava da companhia
daquela mulher
que conhecia seus cantos,
seus poros, suas dores.
Precisava daquelas mãos delicadas
que empurravam não apenas a cadeira,
mas ele próprio, que o davam coragem
de ser forte só mais uma vez,
preso em um corpo
que já não respondia mais
como antigamente.
Precisava daquela mulher
que andava logo atrás dele na piscina,
dando várias voltas,
impedindo que parasse
por causa do cansaço.
E ela simplesmente ia,
sem sequer sentir,
como se o próprio estar
já fosse mecânico.
Ia porque não sabia fazer outra coisa
senão continuar indo.
Precisava daquele homem frágil,
sentado, porque ele fazia
ela acordar todos os dias do ano.
Precisava daquele homem porque ele tinha
os olhos mais doces do mundo,
e mesmo depois de décadas juntos,
aquele olhar ainda causava cócegas
lá no fundo da sua alma.
Precisava daquele homem
andando na sua frente,
na piscina,
porque só assim
ela sabia em que direção seguir.
Os dois precisavam um do outro,
desesperadamente,
tateando as bordas dos seus corpos enrugados
e tentando se achar no meio das ondas
que se formavam na superfície.
Precisavam quando as mãos paravam de segurar,
quando a oração parava de pedir,
quando o olho parava de implorar,
quando a perna parava de sentir,
quando o peito parava de pular
e quando a vida,
contrariando o resto do corpo,
insistia em seguir.
(Blog Eles Sabem Demais -Maria Rita Angeiras)
(Blog Eles Sabem Demais -Maria Rita Angeiras)
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