Gustavo Corção, no livro “O desconcerto do mundo”, fala da psicologia de Alfred Adler (aquele outro discípulo-dissidente de Freud, sem ser o Jung).
Ele resume a base dessa psicologia em uma frase do próprio Adler: “Ser homem é sentir-se inferior, e desejar valorizar-se”.
Isso é bem conhecido. Heidegger e os existencialistas, tão estimados hoje, também definiam o homem por um sentimento de falta, de estar “jogado no mundo”, uma falta de sentido, um vazio (“O Ser e o Nada”).
Mas veja que interessante o que o Corção fala:
“Antes de qualquer consideração, vale a pena assinalar a esquisita metafísica, que bem se explica pela infiltração nominalista até os vasos capilares de nossa civilização, e que define o ser por uma coisa que lhe falta, por uma nota essencial negativa! Como é possível isto sem gracejo? Poderei dizer que o homem é o animal que não voa? Que o sal é um produto químico sem doçura? (…) Em vez de dar ao sentimento de inferioridade um valor universal de diferença específica ou de próprio, darei o simples valor de acidente predicável. Refere-se mais à condição humana, à relação homem-mundo ou homem-vida, mais ao estar, em suma, do que ao ser”.
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