Tenho saudade da redoma de vidro. Saudade de achar bons os livros nas estantes das livrarias. Saudade de achar legal um professor anti-alguma-coisa. Saudade de ler um poema péssimo e achar ousado. De ver o Abujamra e achar engraçado. De ouvir a ladainha e achar novidade.
Quando eu mal tinha saído do ovo e já queria ter as manha, neguinho me disseram um monte de coisas sobre isso e aquilo. E eu tenho saudade de ter acreditado. É uma saudade meio abstrata, sabe? É uma saudade de querer ter tido saudade de ser como todo mundo e querer mudar o mundo. Todo mundo quer mudar o mundo. Alguém então pergunta: “se todo mundo quer mudar o mundo, então por que o mundo não muda?” E eu digo: já está mudando, seu idiota. Só que está mudando pra pior. E, como na sua cabecinha de gorgulho não entra a hipótese de o mundo mudar pra pior (e por culpa sua, ainda por cima), você continua fazendo o maior esforço pra mudar “isso tudo que está aí”, pois, se está ruim, só pode ser porque não está mudando etc etc.
Entendeu por que a minha saudade não é propriamente uma saudade? Eu tenho, ou melhor, eu tivera, tinha ou quereria ter vontade de ser esse idiota. Assim eu gostaria de todas as coisas de que eu não gosto e não conheceria nenhuma das coisas de que gosto.
Complicado? Assim é se lhe parece, ou não.
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