'A verdade é que cada um de nós traz vazios, por preencher,
carências e interrogações submersas,
desejos calcados que procura compensar da forma mais imediata.
Não é propriamente de coisas que precisamos,
mas, à falta de melhor, condescendemos.
À falta desse amor que nem sempre conseguimos,
desse caminho mais aberto e solitário que evitamos percorrer,
à falta dessa reconciliação connosco mesmo
e com os outros que continuamente adiamos...
O consumo desenfreado não é outra coisa
que uma bolsa de compensações.
As coisas que se adquirem são,
obviamente, mais do que coisas:
são promessas que nos acenam,
são protestos impotentes
por uma existência que não nos satisfaz,
são ficções do nosso teatro interno.
Os centros comerciais apresentam-se
como pequenos paraísos, indolores e instantâneos.
Infelizmente, de curtíssima duração também.'
José Tolentino de Mendonça